- VIVEMOS NO GERÚNDIO

Em tempos de “O Segredo” e afins ninguém mais conjuga o verbo Querer no Pretérito Imperfeito. Eu juro que nunca precisei ler esses livros para saber que deveria limar do meu cotidiano tal conjugação verbal. É só ouvir com um pouco mais de atenção frases como “Eu queria um namorado... Eu queria um carro novo...”, para perceber que se você “queria” alguma coisa, você não vai conseguir. Se você caprichar mais na frase e mandar um “Eu queria tanto...”, é aí que você não vai conseguir mesmo!

Também, pudera, segundo o dicionário, Pretérito é o “que não é do presente nem do futuro; situado no passado” e Imperfeito é o “mal executado; feito incorretamente; defeituoso, malfeito, incorreto”. Enfim, juntando as definições, se você mandar um “queria” você estará falando de um passado mal executado e defeituoso. Cruzes! Tem alguma possibilidade de dar certo? Não, né?

Quando quero alguma coisa, quero no presente, quero agora, quero já!

Para todo o resto eu vivo no gerúndio. E gosto. Como roteirista de TV, os trabalhos vêm e vão. Ora estou escrevendo tal coisa, ora estou esperando algum projeto emplacar. Também estou dando aula de roteiro. Sim, não posso dizer que dou aulas, como se fosse algo assim, definitivo, porque amanhã o curso pode acabar. Prefiro então o gerúndio. O gerúndio me dá uma sensação de mobilidade constante, de inquietação, de acontecimentos que vêm e vão, de futuro. E assim eu vou, agarrada no gerúndio, esperando coisas novas sempre.

Vou, enfim, vivendo ...